sexta-feira, 9 de abril de 2010

Niterói: Uma tragédia anunciada



Por volta de 22 graus de Sagitário. Eis onde estava o Ascendente quando fortes estrondos (provavelmente por explosões de gás metano) anunciaram a tragédia no Morro do Bumba, em Niterói. Lá, sobre o terreno instável e perigoso de um lixão desativado, uma ocupação irregular aos poucos criara um bairro inteiro, com direito a creche, pizzaria e igreja evangélica. Tudo foi abaixo por volta das 21h30 da noite de quarta-feira, 8 de abril de 2010. Eis o mapa:
Provável horário do início do deslizamento que soterrou aproximadamente 200 pessoas em Niterói, RJ.

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O horário carece ainda de maior precisão. Cabe observar que até 21h25 nenhum veículo de comunicação do Rio de Janeiro divulgara qualquer notícia sobre o acontecimento. Às 21h39 o portal G1 (de O Globo) deu a primeira notícia sobre um deslizamento que "acabara de acontecer". Calculamos o mapa, então, para o horário de 21h30, com alguma possibilidade de ser alguns minutos mais tarde. Chama a atenção o fato de que Júpiter, considerado o "Grande Benéfico", é o regente do Ascendente (a comunidade e o evento, em si) e encontra-se na casa 4 (o chão, a base), sendo também o planeta mais angular de toda a carta. Apesar da constante associação de Júpiter com a ideia de proteção e minimização de riscos, o planeta-gigante é também um magnificador de processos, fazendo com que tudo assuma dimensões maiores e mais exageradas. No caso, o que esse Júpiter ampliou foram os efeitos da catástrofe.

Júpiter, em dupla com Netuno, também rege gases. É ainda significador de trovões e estrondos. O que houve em Niterói foi um deslizamento (Peixes) súbito (Júpiter em conjunção com Urano) que ocorreu logo após uma série de explosões provocadas pelo contato da água infiltrada com os gases de um lixão. Tudo isso está de acordo com o simbolismo da configuração. Porém, em sã consciência, é provável que nenhum astrólogo olhasse para essa carta e afirmasse com certeza: "aqui vai acontecer uma tragédia".

Os aspectos mais graves deste mapa não são circunstanciais, mas sistêmicos, constituindo o pano de fundo de todas as terríveis catástrofes climáticas e geológicas que se abateram sobre vários continentes nos primeiros meses de 2010. Trata-se da quadratura T entre Plutão, Urano e Saturno - no momento um tanto aberta, mas ainda assim operante.

No dia do deslizamento, Saturno acabara de retornar a Virgem, onde fará ainda mais uma oposição a Urano. Saturno e Marte, dois mafélicos na visão clássica, são exatamente os planetas mais elevados da carta. Plutão ocupa a casa 1, como a indicar fatos que teriam de guardar alguma relação com processos associados a este planeta: enterrar, levar para o submundo, devolver à superfície mais adiante.

Episodicamente o mapa mostra um processo jupiteriano, onde todos os elementos são hipertrofiados: uma tragédia dantesca, com mortos demais e lixo demais. Estruturalmente, o fato reitera o mesmo recado que a configuração Saturno-Urano-Plutão vem repetindo desde a primeira aproximação: é hora de virem abaixo as estruturas que já não se sustentam de pé, sejam as favelas de Porto-Príncipe, no Haiti, sejam as casas populares construídas sobre o antigo lixão de Niterói. O forte simbolismo corretivo da quadratura Saturno-Plutão não nos permite - ao menos por algum tempo - virar as costas para o problema que ninguém quer enfrentar: o colapso do atual modelo de exploração econômica da natureza, que gera cidades inadministráveis e uma quantidade de resíduos deletérios que insiste em voltar à tona, mesmo varrida periodicamente para debaixo do tapete.

O deplorável fracasso da Cúpula de Copenhague mostra como estamos presos ao passado (Saturno), sem coragem de cortar na própria carne (Plutão) e promover mudanças ousadas (Urano) na concepção do modelo econômico e de gestão de recursos naturais. Em consequência, a Terra começa a nos devolver o que nela depositamos indevidamente. O lixão é um fruto da sociedade da abundância (Júpiter), do consumo descartável (Júpiter, de novo) e da imprevidência no trato com os recursos naturais (Júpiter, Júpiter, Júpiter). Ver um lixão escondido há décadas ressurgir do subsolo para tragar quase duzentas pessoas é o típico efeito Saturno-Plutão. A história da cigarra e da formiga se materializa diante dos nossos olhos. Só que desta vez a formiga não fez sua parte a tempo.

Artigo publicado no site Astroletiva/Constelar: http://www.constelar.com.br
Um espaço criado para a publicação de textos referentes a Astrologia - a Ciência mais antiga da Humanidade.